domingo, 13 de setembro de 2015

A saudade e a casinha amarela


Por Joana Pereira

A 47ª expedição fotográfica à Ilha de Boipeba foi recheada de surpresas e, como tantas outras, foi marcante pelos acontecimentos e pelas novidades peculiares de seu lugar. Muitas coisas ficaram impregnadas em nossas mentes: a casinha amarela, o barco amarelo a rede amarela, o azul do mar, entre tantas belezas. Tudo foi especial e singular. O verde e o marrom quase preto do mangue, assim também o cheiro de maresia não serão esquecidos.

Como não sentir saudades de sensações agradáveis e prazerosas? Tudo funcionou como o planejado; a viagem à Boipeba transcorreu tranquilamente, saímos às 5:15h de Petrolina e chegamos no cais de Graciosa às 16:40h. Depois de cansados de tantas horas no ônibus, percorremos ainda duas horas e quarenta minutos no barco. Para fugir da “rotina” aproveitamos para fotografar o lindo por do sol, a natureza e nos fotografar.

Marcar nossa presença e lugar em Boipeba não foi difícil, pois desde a chegada sentimos um aconchego na recepção, assim que avistamos uma mulher à frente de casinhas amarelas nos aguardando. A senhora Dária, com seus mimos e delicadezas, nos fez sentir em casa o tempo todo, e não deixou por menos o acolhimento de Cristina, nossa acompanhante em vários passeios.

A singularidade advém da simplicidade, da boa aceitação daquilo que não foi programado e também do que foi organizado com tamanha delicadeza, como o tilintar de um encontro regado a caipirinha com gosto picante de gengibre. A lembrança do peixe feito no fogão à lenha, o cheiro peculiar de um sabonete, a flor posta ao lado da xícara arrumada carinhosamente e as cores compostas na mesa. Esses instantes somente indicam que a experiência marcou e a saudade ficou.

Muitos jornadeiros repetiram que não queriam voltar e deixar as belezas para trás, as amizades. A saudade é algo inerente aos seres humanos. Àqueles que se deixam envolver, se relacionam com outros, com a natureza, objetos, com os bichos, usufruem desse sentimento. Tom Jobim expressou em versos o que estamos sentindo “... a realidade é que sem ela não pode ser...” ainda estamos melancólicos, apegados ao que vivemos, pois a saudade é sentida depois de um aconchego em uma casinha amarela, de um aceno, de uma espera, de um reencontro.

Sem dúvida tivemos muitos momentos de puro êxtase em Boipeba. As belezas que nos cercavam eram dignas de admiração. Assim acontece em todas as Jornadas, quando não estamos diante de lugares rochosos exuberantes, o Rio São Francisco está como pano de fundo ou como a personagem principal.  Em Boipeba os cenários divergiram e convergiram para lindos registros: a ilha de Boipeba velha, a igreja do Divino Espirito Santo, o Museu dos Ossos, o Morro do Quebra Cu, o por do sol, a lua, o manguezal, o rio do Inferno, a pousada e o mar que proporcionou um banho em águas transparentes e quentes.

Evidentemente que nossas lentes flagraram muitos detalhes, no qual o amarelo apresentou-se com maestria e vivacidade em Boipeba, e por isso, o amarelo com uma pitada de afeto e recheada de carinho foi traduzida em saudade. Nessa jornada, o mar e o rio, estiveram numa fusão delirante onde vimos e sentimos o arrebatamento desse encontro nas idas e vindas da maré.

Dois dias visitando a ilha na companhia de Cristina Cenciarelli, comprovamos realmente que a mesma nutre um amor por este lugar, pelos seus habitantes e pelas tradições. Ao ouvirmos o som “CAZZAROLA” pronunciado diversas vezes por Cristina compreendemos mais uma vez que os signos linguísticos são construídos, assim também os usos, regras e combinações semânticas. Para nós “CAÇAROLA” ecoou muito carismático e constatamos nas ruas da velha Boipeba que os moradores sempre saudavam-na gritando “Cazzarola”, em seguida, abraços e olhares eram trocados. A italiana articulava a palavra com tamanha admiração conseguindo expressar subjetividades e sentimentos positivos para todos.

Para finalizar essa narrativa não podemos deixar de falar de um dos momentos idílicos dessa Jornada que foi regado de música, poesia, caipirinha, paródias, descontração e conversa. Muita atenção para ouvir os versos da canção “o Corcovado” de Tom Jobim na voz de Cristina Cenciarelli.  Surpresa e inicialmente atônita, recebeu o violão e foi convidada a cantar, já nos primeiros acordes demonstrava o quanto íntima era das notas. “Um cantinho, um violão/Esse amor, uma canção/ Prá fazer feliz/ A quem se ama...”.

Diante de tamanha nostalgia, muita música, fomos agraciados ainda com os versos “...É melhor ser alegre que ser triste/ Alegria é a melhor coisa que existe/ É assim como a luz no coração...” A magia recortou o tempo com a sutileza de Luan a partir da música “Samba da benção” de Vinicius de Moraes; abençoou todos que ali estavam no aconchegante cantinho da Casinha Amarela. Lembrando das características mais visíveis e positivas dos dezessete participantes dessa Jornada e das duas mulheres, Dária e Cristina, parodiou e nos convidou a repetir o termo Saravá sempre que concluía a saudação sobre uma pessoa. Esse poderoso mantra fechará mais uma Jornada e fixará boas vibrações para os próximos encontros SARAVÁ!!!

(Fotografias de Itamar Maia)

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