(Fotos: Regina Lima)
Com a presença de um expressivo número de visitantes foi inaugurada, na noite do último dia 07/08, a exposição coletiva 18x2 do grupo Jornadas Fotográficas do Vale do São Francisco. Trata-se da nossa maior e mais importante exposição realizada desde a criação do grupo, em setembro de 2010, e que celebra justamente a iminência do nosso segundo aniversário. Com 50 imagens de 47 participantes, ela apresenta um panorama da nossa produção, cobrindo todas as 18 jornadas relaizadas no período. Além disso, um painel de 100cm x 100cm apresenta 300 imagens do grupo em ação nos diferentes locais visitados desde a primeira jornada. Os textos de apresentação da exposição e do projeto são de autoria, respectivamente, de Márcia Guena, jornalista e coordenadora do curso de Comunicação Social da UNEB, e de Cecílio Bastos, jornalista. Eles seguem reproduzidos abaixo.
18x2: As cores da diversidade
Diverso é o sertão. Como foram diversas as paisagens e as gentes das 18 viagens realizadas nos dois últimos anos pelos 80 participantes que passaram pelas Jornadas Fotográficas. Distintos são os olhares dos 47 fotógrafos reunidos na exposição 18X2.
O plano se fecha no rosto e expressa a herança negro-indígena da região. Força captada no enquadramento dos rostos dos vaqueiros, rugas suavizadas pela luz. Crianças que se expõem à inconveniência do diafragma e se deixam inocentes, risonhas, lindas, em cor, em preto e branco serem flagradas pelo fotógrafo, que não as abandona e mostra a relação difícil delas com a terra. Mas também sorriem na festa....
Os jornadeiros também expandiram os planos para mostrar o homem, a mulher e seus afazeres: a feira expressa num debulhar contínuo da mão feminina que não se cansa; a pescaria, na rede que se abre sobre o rio; a vaquejada, que extenua e encanta o vaqueiro, maltrata e humilha o boi, para alegria da multidão.
Luz, cor e água. Assim aparece a natureza, sem tratamentos, sem retoques. Quase todas as imagens parecem apenas deixar-se levar pelo rio e pelo céu, com seus contrastes naturais. Poucas interferências, quase um documento da região que não se expressa apenas pela mão que toca, delicadamente, a terra seca quebradiça. A mão toca gentilmente a terra porque ali tem vida guardada. Com a primeira gota nasce uva, manga e melão. Veja como a uva corre como água, captada com uma sábia velocidade baixa. Pois então, governantes e latifundiários, deixem a água correr para os que têm menos!
“O estilo de vida, as tradições, a natureza e a cultura na região do Vale do São Francisco”, é o que desejam expressar esses fotógrafos. Será que conseguem? O sorriso exuberante do travesti pode responder: temos aqui o substrato da fotografia, a luz; a diversidade das gentes; a complexidade dos ambientes. As 50 imagens certamente estão nessa busca inquietante do sertanejo e da sertaneja, que tanta gente já trilhou: Euclides da Cunha, Evandro Teixeira, Graciliano Ramos, João Cabral de Melo Neto. Acho, portanto que o caminho da composição de uma nova imagem do sertão começa a ser trilhado: estereótipos dissipados, ângulos inusitados e a intuição emoldurando o enquadramento, porque estas paisagens não são secas, tampouco nossas consciências. Para aqueles que se arriscam por essas “foto” “grafias”: boa Jornada!
Márcia Guena.
Jornadas Fotográficas do Vale do São Francisco
Faltava o calor humano, a proximidade. E então nasceu o grupo Jornadas Fotográficas do Vale do São Francisco. Um projeto independente e sem fins lucrativos, dedicado a estimular a arte fotográfica por meio de várias atividades, de rodas de bate-papo a exposições. Entre os membros, fotógrafos amadores, desde jovens iniciantes a profissionais liberais que de alguma forma se apaixonaram pela fotografia. No grupo há também espaço para fotógrafos profissionais, mas a noção de fotografia enquanto hobby, sem caráter comercial, é o que prevalece.
O grupo Jornadas Fotográficas do Vale do São Francisco focaliza as dezenas de lentes na produção de ensaios sobre as tradições, os lugares, o modo de viver dos povos, somando, desta forma, diversos olhares sobre os movimentos artísticos, históricos e culturais da sociedade.
Com o passar do tempo, gradualmente, o grupo Jornadas Fotográficas foi se transformando em uma plataforma independente para a fotografia – documental, fotojornalística, fine art – e para o livre intercâmbio de informações. Para atingir tais objetivos, o grupo organiza, uma vez por mês, expedições fotográficas gratuitas e abertas a todos os interessados. O principal requisito é gostar de fotografia e ter algo que possibilite a captura das imagens. Isso significa que para participar, o “jornadeiro” não precisa dominar a técnica fotográfica ou portar equipamentos sofisticados.
Após cada jornada, o projeto gerencia as fotografias e monitora de perto os avanços de cada membro do grupo. Cada imagem se transforma em objeto de análise e discussão. O resultado é um vasto acervo de fotografia, disponível publicamente, fruto de um processo educativo que ocupa posição de destaque no grupo Jornadas Fotográficas do Vale do São Francisco.
Cecilio Bastos.
Aproveitamos para deixar aqui os nossos agradecimentos ao SESC Petrolina, em especial a André Vitor Brandão, Pollyana Mattana, Jailson Lima e Hednilson Roberto Bezerra da Silva, que apoiaram integralmente o projeto desta exposição desde o primeiro e garantiram as melhores condições para sua plena execução.
Agradecimentos especiais também para o grupo de jornadeiros que ficou encarregado da montagem e supervisão dos trabalhos de finalização, formado por Maurício André dos Anjos, José Carlos Costa de Amorim, Cecílio Bastos, Flávia Ramos, Suzana Leal, Cristiano Almeida Silva, Rafael Guedes Benevides, Karla Lima e Tiago Alves Calábria.
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