sexta-feira, 31 de maio de 2013

Terror, ficção e festa

O dia começou cedo. Eram 6:30h da manhã do sábado quando o nosso microônibus tomou o rumo de São José do Belmonte, distante cerca de 330Km de Petrolina. Depois de quatro horas e meia de uma viagem tranquila, porém com paradas emergenciais para administrar os problemas do motorista decorrentes da pizza consumida na véspera, chegamos ao destino por volta das 11:00h, praticamente na fronteira de Pernambuco com a Paraíba, e rodeados de uma paisagem verde e um clima ameno, bastante diferentes de Petrolina e região. Nos instalamos na Pousada Alto do Guerra, onde fomos muitíssimo bem recebidos e acomodados por D. Olimpia e família.

Antes do almoço na Tapiocaria, no centro da cidade de 30.000 habitantes, aproveitamos para fotografar a feira que acontecia na praça vizinha e também o final de uma demonstração de ruidosos bacamarteiros na praça principal, em frente à igreja. Com tiros e explosões de grande impacto, eles foram a sensação das nossas máquinas fotográficas pré-almoço.

Depois de abastecidos, foi fomos conhecer o Reino Encantado, uma mistura de mausoléu/museu/castelo de fadas/construção medieval, inacabado e absolutamente incrível, onde se pode apreciar registros de todos os tipos (livros, esculturas, quadros, objetos etc) sobre a vida do sertanejo e o folclore da festa que acontece sempre no último final semana de maio.

Foi lá que estavam sendo maquiadas as damas que em seguida iriam participar da Cavalhada, realizada no estádio de futebol, ao lado do Reino Encantado. Na Cavalhada propriamente dita, duas equipes de cavaleiros - Azul e Encarnado - reproduzem jogos típicos da Idade Média, procurando acertar argolas penduradas com suas lanças durante a corrida, entre outros. Tudo isso ornamentado por rei, rainha, damas de honra, locução oficial, banda de pífanos e uma platéia que se dividia na torcida pelas duas equipes. De noite fomos dormir cedo, pois o dia seguinte seria o mais puxado de todos.

De fato, o domingo começou às 4:00h, quando começamos a nos arrumar para ir até a Tapiocaria onde o café da manhã foi servido ainda no escuro, às 5:00h. O sol ainda nã tinha aparecido quando so fogos foram acionados e os primeiros cavaleiros começaram a surgir na prça. Logo depois veio o padre, os cantadores e o aboiador. Com a música instalada e o dia nascendo, o público foi aparecendo até que uma grande multidão presenciou a benção do padre aos cavaleiros, que então partiram na famosa Cavalgada à Pedra do Reino, um percurso de cerca de 28Km pelo meio mato.

Na base do improviso, conseguimos acomodar a maioria dos nossos jornadeiros na caçamba das pick-ups que iriam acompanhar o cortejo. Até o carro do Corpo de Bombeiros foi usado, e levou cinco dos nossos entre equipamentos de primeiros socorros. O que se seguiu para esses jornadeiros foi uma grande aventura, com duração de mais de cinco horas, muita terra, muita poeira, muito solavanco e, com certeza, ótimas imagens. Para contar essa história, no entanto, vou precisar do depoimento de quem estava lá. Espero em breve poder preencher essa lacuna na presente narrativa.

Os poucos que não conseguiram embarcar foram diretamente para a Pedra do Reino, num percurso relativamente longo através de estrada de asfalto e estrada de terra. Uma vez lá aguardamos a chegada da tropa, o que iria acontecer apenas por volta do meio-dia.

Nesse meio tempo fomos brindados com a abordagem do Sr. Ernando Carvalho, profundo conhecedor do episódio histórico acontecido no local, e que nos presenteou com uma longa aula, rica em detalhes, sobre o assunto. Vou procurar fazer um resumo dessa tenebrosa história em outra postagem.

Cobertos de poeira e terra, queimados de sol, absolutamente esgotados e imensamente satisfeitos, retornamos para o almoço na Tapiocaria e depois para a pousada, tomamos banho e partimos para Petrolina às 16:30h, onde desembarcamos às 21:00h.

Na bagagem, trouxemos um pouco do percurso que se inicia em 1836, com um grande massacre de vidas humanas, prossegue com uma ficção inspirada nesse episódio ("O Romance d'A Pedra do Reino", de Ariano Suassuna) e termina com uma celebração anual que reproduz cenas do romance desse grande escritor. Da vida à arte à vida, fica a lição de que as interações são mútuas, complexas e, geralmente, surpreendentes. Parabéns à Associação Pedra do Reino pela belíssima festa, assim como para a acolhedora São José do Belmonte e seus habitantes.

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