terça-feira, 6 de outubro de 2015

Um olhar contemplativo sobre os costumes do vaqueiro


Por Paula Theotonio

Nada como ser impactada com uma realidade totalmente diferente da sua. E foi essa sensação que tive ao chegar, na manhã deste domingo (04), para uma pega de boi no mato na Fazenda Boa Esperança - situada no distrito de Rio Jardim, zona rural de Petrolina.

Cabe citar, antes de mais nada, que eu já conhecia o tradicional "esporte radical" do sertão: fotografei este ano a Missa do Vaqueiro de Serrita/PE - a mãe das celebrações desse povo; iniciada em 1970 por Luiz Gonzaga, o padre João Câncio e o poeta Pedro Bandeira (único vivo nos dias atuais).

Durante a programação, acompanhei uma pega de boi nos arredores do parque de eventos e vi, nos olhos daqueles nordestinos forjados na dura mata branca da caatinga, o amor que têm por aquela prática um tanto polêmica. Portanto devo dizer que quaisquer questões sobre "maus tratos versus cultura" já estão bem resolvidas em minha cabeça e prefiro não entrar nesse mérito aqui no blog. Melhor tratar disso numa mesa de bar :)

De volta às fotografias em pleno mato, com o sol de Outubro castigando, queria enxergar coisas que não tinha visto antes. Diferentemente da experiência em Serrita, desta vez havia uma possibilidade maior de me debruçar sobre a gastronomia do vaqueiro: comer um bom cuscuz com café coado na primeira refeição do dia e, no almoço, deliciar-me com bode, porco e galinha caipira; todos criados nas propriedades da comunidade.

A surpresa veio ao acompanhar o preparo: panelas enormes não sobre fogões de barro, mas em fornos artesanais cavados no chão. Sim, tudo feito ao ar livre, debaixo de uma árvore. Para mexer a comida era necessária a força masculina e experiente de Seu Jacó, responsável por manusear pedaços enormes de madeira e manter toda a carne cozida por igual. O resto era facilmente preparado pelas mulheres da comunidade. Após ouvir um relato de como se cozinhar um bode sem água ou panela, lembrei-me de que a culinária deste povo é de "resistência", assim como sua própria identidade.

De volta à pega de boi, escolhi um lugar estratégico - e seguro - para fazer as fotos que eu queria: os bois enfileirados, expressões de vitória, detalhes, etc. Bem melhor posicionados, mas nada a salvo, estavam vários rapazes do grupo; que caçavam do alto de galhos secos os seus melhores cliques. A busca pela foto ideal estava embebida em uma paixão comparável, na minha opinião, à dos vaqueiros que corriam, com seus cavalos, atrás do gado. A ousadia dos colegas rendeu não só bons cliques, como boas histórias - e algumas cicatrizes.

3 comentários:

  1. É como se eu tivesse participado dessa jornada; vislumbrei o cenário - senti o aroma do café, o cheiro da comida e até o calor do sol castigando a pele - parabéns Paula - belo texto.

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  2. A Fazenda Boa Esperânça,vem agradecer a equipe da Jornada fotográfica, pelo trabalho prestado em mais um evento da Festa do vaqueiro,cobertura excelente.
    Em nome dos organizadores Edinho Barros, e Galeguinho do Gado

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    1. Nós é que agradecemos. A nossa missão é documentar e promover a cultura sertaneja, e por isso nos sentimos privilegiados pela oportunidade concedida. Fomos muitíssimo bem recebidos e parabenizamos vocês pela organização. Em breve as fotos estarão sendo disponibilizadas, esperamos que gostem.

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