As nossas atenções desta vez estiveram voltadas para o Recôncavo Baiano, esta região tão rica dos pontos de vista histórico, cultural e econômico, e tão diferente do Vale do São Francisco nos mesmos aspectos e também no clima, na vegetação e na paisagem.
Desta vez usamos os nossos próprios veículos para levar os seis jornadeiros de Petrolina para Cachoeira (a sétima, Alvany, encontrou conosco em Cachoeira), numa viagem que se estendeu por 440Km e nos consumiu praticamente um dia inteiro para ir e outro para voltar. Na ida paramos no Posto Folha Seca, ainda em Juazeiro, para um típico café da manhã sertanejo. Depois, almoçamos na churrascaria Boi na Brasa em Capim Grosso, local onde também comemos no retorno.
A chegada em Cachoeira aconteceu por volta das 16:00h (partimos um pouco antes das 9:00h), e por isso ainda tivemos tempo de fotografar um pouco com a luz do dia. Desde a entrada na cidade ficamos surpreendidos com a densidade da vegetação, o clima ameno e os enfeites para as festas juninas nas casas da zona rural.
Nos acomodamos na Pousada do Convento do Carmo, antigo convento que hoje faz parte do histórico Conjunto do Carmo, e rapidamente saímos para fazer a exploração inicial da cidade. Caminhamos pela orla do rio Paraguaçu, descobrimos ruas e becos, admiramos o seu lindo conjunto arquitetônico e procuramos não dormir muito trade para poder aproveitar bem o dia seguinte.
Na sexta-feira, dia 16/06, acordamos cedo e, debaixo de sol e céu azul, conhecemos Cachoeira e São Félix à pé. Os carros, neste dia, não saíram do lugar onde estavam estacionados desde a noite anterior. Fomos inicialmente à Casa de Câmara e Cadeia Pública, onde conhecemos a história do início do movimento que iria eclodir na independência do Brasil em relação à Portugal. Depois, estivemos na Fundação Hansen Bahia, onde tivemos o privilégio de ser atendidos pela Cristiane e pelo Jomar Lima, museólogo e fotógrafo. Ambos nos apresentaram ao artista Hansen Bahia, um europeu radicado no Recôncavo e com um legado de gravuras e xilogravuras espetacular. De quebra, ainda fomos presenteados com um livro de fotografias de autoria do próprio Jomar Lima. De lá, o próprio Jomar se incumbiu de telefonar para o responsável pelo museu da Ordem Terceira do Carmo, nos recomendar e assim conseguir uma autorização para uma visita ao lugar, normalmente fechado aos turistas. Assim é que fomos então em seguida para a Ordem Terceira, onde fomos gentilmente recebidos pelo senhor Antônio, que nos conduziu por todas as dependências, sempre nos explicando os detalhes de cada obra e sua história.
Como já era hora do almoço, procuramos uma opção e acabamos sendo recomendados para a Jeilza, na orla, onde alguns saborearam um famoso prato regional - a maniçoba - e outros o típico "mocófato". Tudo isso ao lado de uma rua com casas coloridas numa rua coberta com centenas de bandeirinhas para as festas de São João, e na frente do rio.
Almoço saboroso porém pesado, hora de caminhar novamente para queimar as calorias. Assim é que estufamos o peito, carregamos as mochilas e nos pusemos em marcha no sentido da famosa ponte de ferro Dom Pedro II, que liga as cidades de Cachoeira e São Félix. Depois de atravessá-la, conhecemos a produção de charutos da Dannemann, onde também adquirimos alguns exemplares. Na seqüência, subimos a rua que nos levou até a Fazenda Santa Bárbara, situada no alto de um morro, lugar onde Hansen Bahia morou nos seus últimos anos de vida e onde se pode conhecer uma grande parte do seu acervo, assim como o seu ateliê. Já passava das 17:00h quando descemos o morro, cruzamos a ponte com um fantástico por-do-sol e retornamos para Cachoeira. Descanso rápido, banho e saímos para jantar e degustar os charutos adquiridos no dia.
No sábado, dia 17/06, fomos conhecer o Centro Cultural da Irmandade da Boa Morte, expoente do sincretismo religioso que é tão característico da região. Lá fomos recebidos com muito carinho e atenção pela Jordânia, que depois da palestra ainda nos acompanhou, deu explicações adicionais e vendeu itens comercializados no lugar. Depois fomos para conhecer a feira da cidade, de grandes proporções, e também a igreja do Rosário dos Pretos, localizada no alto de um morro de onde se avista toda a região.
Resolvemos deixar para almoçar no distrito de Coqueiros, município de Maragogipe, distante cerca de 17Km do centro de Cachoeira. Lá, na foz do rio e debaixo de uma chuva torrencial, apreciamos os frutos do mar preparados no quiosque do Renato, depois de fazer contato com um babalorixá e uma senhora que "retirava os umbigos dos mariscos". Depois do almoço saímos à procura da Dona Cadu, famosa ceramista da região. Ainda debaixo de muita chuva, conseguimos encontrá-la em casa e teve início aí um animado encontro que deixou marcas profundas em todos nós. Ceramista ativa, comerciante e puxadora de samba de roda nas horas vagas, a Dona Cadu é a simpatia em pessoa, conversa sobre todos os assuntos e explica com riqueza de detalhes o seu processo produtivo, como é o caso dos fornos que são construídos nas margens do rio Paraguaçu. Com 97 anos, bem-humorada e soltando gargalhadas constantes, a Dona Cadu é detentora de um carisma e de um vigor físico e mental que nos deixou a todos impressionados.
A chuva seguia forte e já começava a escurecer quando voltamos aos carros para buscar o abrigo da pousada em Cachoeira. Novamente, banho e descanso rápido e saída para jantar. No dia seguinte, acordamos planejando pegar a estrada cedo. Mas os encantos de Cachoeira nos fizeram seguir devagar, parando para fotografar em cada esquina, sempre descobrindo coisas para as quais não havíamos atentado antes. Além disso, ainda paramos para comprar licor, tomar caldo na feira, comprar queijo e amendoim. Já passava bastante das 9:00h quando finalmente nos pusemos em marcha de volta para casa, em outra viagem longa porém animada através das conversas de rádio frequentes entre os dois carros.